“Se eu fosse
deputado, votaria a favor do Proredes, se houver transparência”
Por MAX AUGUSTO
Nesta entrevista concedida ao JORNAL DA CIDADE / BLOG DO MAX o senador
Eduardo Amorim (PSC) afirmou pela primeira vez que é favorável ao Proredes – um
empréstimo R$ 250 milhões para investimentos na Saúde, que o governo do estado
tomará junto ao BID. A única ressalva de Amorim é de que haja transparência no
processo e que fique claro onde cada centavo dos recursos serão aplicados.
Amorim disse também que não orientou a presidente da Assembleia, Angélica
Guimarães (PSC), a não colocar em pauta o projeto, e falou que se fosse
deputado, apoiaria sua tramitação – desde que houvesse transparência, insistiu.
Leia a seguir a conversa.
JORNAL DA CIDADE – O
que achou da decisão do prefeito João Alves Filho, em permanecer na Prefeitura
de Aracaju?
Eduardo Amorim – Agora
posso externar que tive uma conversa com ele há quase duas semanas. Disse ao
prefeito que estivemos juntos - todo o nosso bloco, éramos 12 partidos, o
entendimento foi feito bem próximo da convenção - e defendemos, fomos de corpo
e alma. Tive uma conversa muito boa com doutor João e apenas falei sobre o
cenário politico que Sergipe passa. Mas volto a dizer, isso foi uma decisão
dele. De fato, nós aracajuanos (quem nasceu e quem mora aqui) depositamos uma
confiança de que ele possa ajudar a sanar as angústias nossas na mobilidade
urbana, na Saúde (onde ainda há muita coisa a ser feita), com a contribuição na
Segurança Pública, que a guarda municipal vem dando, isso é visível.
JC – Mas o prefeito
João Alves tem conseguido atender às demandas da capital, tem conseguido levar
melhorias ao povo aracajuao?
EA – Em algumas
áreas dá para se ver alguns avanços, mas ainda há muito o que se avançar.
JC – Na Saúde, por
exemplo, qual a opinião do senhor, que é médico e foi secretário de Saúde?
EA – Na saúde há
muito o que avançar e ele mesmo tem dito isso. Ele me confessou que uma das
pastas mais complexas que ele tem para resolver é a questão da Saúde. E a Saúde
não é só a Saúde dos aracajuanos, é dos sergipanos, porque aqui atende-se de 80
a 90% de toda a alta e média complexidade do estado. Ele também me falou do
endividamento do estado com a Prefeitura de Aracaju e da partilha desigual que
se tem entre estado e prefeitura. Quando fui ao Ministério da Saúde com ele, há
alguns anos, essa partilha era quase meio a meio para os procedimentos de alta
e média complexidade, enquanto agora Aracaju fica com apenas 26% e o estado
mais de 70% de tudo o que vem do Ministério.
JC – Com a decisão do
prefeito, o PSC vai tentar obter o apoio de João Alves para 2014? De que forma?
EA – Vamos tentar
o apoio daqueles com quem mantivemos uma aliança. Estivemos juntos em 2012 e
espero que em 2014 isso aconteça. Não só com o DEM, mas com outros partidos,
como o PSDB, o PHS - que já anuncia apoio a nossa pré-candidatura. E aos poucos
as alianças vão se consolidado.
JC – Uma coligação
liderada por Jackson Barreto e apoiada por João Alves Filho seria imbatível?
EA – Imbatível
não, ninguém é. Pelo menos é o que penso, não tenho essa ilusão de que alguém
seja imbatível, acho que a humildade deve ser mantida. Vamos continuar onde
sempre estivemos, de maneira firme, mas tendo a humildade como alicerce.
JC – Se o prefeito
João Alves decidir apoiar Jackson Barreto, ele perderá o apoio do PSC e demais
partidos aliados, na Câmara Municipal de Aracaju?
EA – Não penso
nisso, não estou barganhando, nem trocando, nem fazendo nenhum contrato. A
gente tenta conquistar pelo convencimento, pelas ideias e pelas propostas. Nada
de tome lá, me dê cá.
JC – Mas isso
acontecendo, como ficaria a situação da bancada?
EA – Aí seria
outro momento, outra hora. Cada momento com a sua questão, é preciso dar o
passo com a situação do momento. Agora, agente procura fazer isso com muito
planejamento e organização. Em todos os passos que demos, até aqui, houve
muitas vitórias. Não esperávamos que houvesse aquele rompimento com o
governador Déda. Foi uma atitude dele. Havia um pacto para que Angélica e o PSC
se mantivesse na Assembleia. Com aquele rompimento, tivemos que escolher o
nosso caminho, o nosso destino. Mas a iniciativa não foi nossa.
JC – Mas o PSC teria
continuado no governo até quando? O rompimento não era inevitável, já que havia
dois projetos divergentes, para o governo: o de Jackson Barreto e o de Eduardo
Amorim?
EA – Não digo o
governo, mas teríamos mantido alguma aliança, teríamos mantido do mesmo jeito,
com alguma pactuação. Não sei se ficaria inviável. Não posso dizer que ficaria
como está hoje. Ninguém desejava ou esperava o que aconteceu com Déda. Naquele
momento houve uma separação, mas mantendo sempre o respeito. Por isso fomos
buscar outros rumos. Doutor João veio buscar a aliança e mantivemos a aliança.
Sempre estivemos pautados com organização e firmeza, sem ter cargos para dar,
sem secretarias para dar. As pessoas sempre acreditaram. O que é isso? Crédito,
palavra. As pessoas acreditam e acham que com essa união a gente pode
materializar a esperanças de muitos sergipanos.
JC - O empréstimo do
Proredes não está sendo colocado em votação na Assembleia por orientação do
senhor, como o líder do governo chegou a afirmar?
EA – Não, de
jeito nenhum. Se o líder do governo diz isso, ele não está sendo verdadeiro,
porque ele nunca me perguntou nada sobre isso. Eu sou a favor de que, assim
como foi feito com o Proinveste, que seja feito com qualquer outro. Posso não
concordar com esse endividamento excessivo, é preciso tomar muito cuidado,
vamos pagar por isso. Agora, tudo isso tem que ser feito com muita
transparência. Se o Proredes tiver dizendo para onde vai cada centavo, se tiver
tudo realmente de forma muito transparente com o povo, sou a favor realmente de
que se coloque em votação. Com transparência para onde se vai cada centavo. Vai
ser investido em que? Em que unidade hospitalar? Em que posto? Se for desse
jeito, acho que qualquer cidadão concorda, e eu também. Não é justo que a gente
pague uma coisa que a gente não sabe para onde vai, se for coisa eleitoreira.
Agora, é para melhorar a saúde? Esse negócio de ir para a conta única é muito
perigoso. Estamos pagando empréstimo, pagando juros, mesmo com os cuidados que
foram tomados, para finalidades que não foram as determinadas. Temos que tomar
muito cuidado com isso. Se estiver constando o destino de cada centavo,
mostrando onde o BID liberou o investimento, concordo plenamente.
JC – O senhor defende
que ele esteja mais “amarrado”, mesmo discurso utilizado no Proinveste?
EA – Não utilizei
esta palavra. Se ele for feito com muita transparência e que não caia numa
conta única, conta com meu apoio. Eu não voto, mas se estivesse lá, se eu fosse
um parlamentar, eu votaria. Agora, deixar algumas coisas soltas, sem saber para
onde vai, isso não. Com transparência, o Proredes tem o meu apoio.
JC – O governo
procurou o senhor ou o seu grupo político, para discutir o Proredes?
EA – A mim nunca
procurou. Se procurou outras pessoas, não sei. E se tivesse procurado, diria a
mesma coisa que disse a Déda: com transparência tem o meu apoio. Se eu
estivesse lá, eu pediria para votar, desde que houvesse transparência.
JC - Não seria pouco
democrático por parte da presidente da Assembleia não colocar o projeto em
votação? Ela não o coloca em pauta porque sabe que o governo possui os votos?
EA – Não sei lhe
dizer dos pormenores. Não sei se falta transparência ou não ao projeto, não vi
com detalhes. Esse assunto cabe ao governo, no parlamento [Senado] onde estou
temos outros temas.
JC - O líder do
governo na Assembleia questionou algumas avaliações do senhor sobre o
endividamento do estado. Ele mostrou que hoje o governo deve cerca de 54% da
Receita Corrente Líquida, enquanto no governo de João Alves esse percentual
chegou a 64%. Ou seja, o endividamento é menor hoje.
EA – Cada um diz
o que quer, mas a verdade independe dele querer ou não. Que hoje o sergipano é
um dos povos mais endividados do Brasil, isso é dito por todo mundo. Per capta,
por habitante, Sergipe se tornou um dos estados mais endividados do Brasil.
Sergipe devia R$ 850 milhões e hoje deve R$ 5 bilhões. Nossa situação fiscal
até 2008 era relativamente boa, mas hoje é muito preocupante. Se ele diz
diferente, acho que ele precisa estudar um pouquinho mais, se aprofundar um
pouco mais.
JC - Mas é justamente
isso que ele afirma, a dívida cresceu, mas a arrecadação do estado também, e
comparativamente a situação está melhor que em 2008, como o senhor falou.
EA – Falo em
relação ao número de habitantes. Ele não tem que comparar só com a dívida,
porque os números são diferentes. Hoje a arrecadação da Secretaria de Saúde é
dez vezes maior do que quando eu estava, por exemplo.
JC – Comenta-se que a
deputada Angélica pretende permanecer no cargo, mesmo após ser eleita para o
Tribunal de Contas. Isso é verdade?
EA – Não sei, não
conversei com ela sobre isso. É muito recente, apenas na semana passada ela se
inscreveu para disputar a vaga. Não tive tempo para conversar com ela. Não há
nenhuma orientação da nossa parte sobre esse questionamento. Aliás, quando foi
escolhido Zé Franco para ser o vice, é bom lembrar que o nome era de Garibalde,
que não quis ficar com o bloco de deputados que escolheu Angélica. Zé Franco
não impôs nada. Sempre se comentou que Angélica poderia ir para o TCE. Zé
Franco teve e continua tendo a confiança do nosso bloco, se ele tiver que
ocupar um espaço como este. Tenho um carinho enorme por Zé Franco, e se for a
vez dele, tenho certeza que o bloco contará com o meu apoio para ele. Para Zé
Franco eu digo sim.
JC - O que achou do
plano de cargos e salários que o governo mandou?
EA – Não
analisei. O Plano foi enviado esta semana. Conversei com as categorias. O que
acho estranho é que vai o plano, mas não vai o reajuste. O servidor está há
três anos sem aumento. Servidor tem perdido muito, houve inflação no período e
o poder de compra hoje é menor a cada dia. E vale lembrar que essas pessoas,
com Gualberto, chegaram ao poder defendendo os trabalhadores. E o servidor não
é trabalhador?
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