chamou de um projeto político que precisa prejudicar Sergipe para vencer. Leia a seguir.
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Déda: “Há vida depois do câncer e eu estou lutando por ela” |
Marcelo Déda - O tratamento quimioterápico a que estou me submetendo continua dentro daquilo que foi planejado pela equipe médica que me assiste, liderada pelo Dr. Paulo Hoff, do Hospital Sírio Libanês. Obedece a um cronograma que prevê, em sua primeira fase, quatro sessões quinzenais. Finda essa fase, realizarei exames para avaliar a evolução do tratamento e os médicos decidirão as futuras etapas. É uma luta longa, mas a minha fé em Deus, a minha confiança na ciência médica, aliadas ao apoio da família e às preces dos sergipanos são alentos que me permitem manter alta a moral e sempre desfraldada a bandeira da esperança. Vou vencer mais essa! A pior parte são as viagens e a quimioterapia. O tratamento quimioterápico é extremamente agressivo, com a aplicação por via venosa de medicamentos muito fortes que provocam muitos efeitos colaterais. Mas faz parte da luta e nada na minha vida foi conquistado sem luta.
JC - Homem culto e conhecido por ser um leitor
voraz, o que o governador tem lido durante este período difícil?
MD - Tenho mantido uma rotina de leitura muito intensa:
muita poesia, textos de filosofia, política e muitas biografias. Conclui a
leitura da biografia de Martinho Lutero, do francês Lucien Favre, li a
autobiografia do Darcy Ribeiro, trechos da biografia do presidente João Goulart
e uma original biografia do filósofo Montaigne, de autoria de Sarah Bakewell.
Comecei agora a biografia do Marighella, do jornalista Mário Magalhães. Vários
amigos me presentearam com textos religiosos e de espiritualidade que me auxiliam
nas minhas meditações e orações. Ah!, também tenho recobrado a veia poética e
cometido alguns versos destinados à solidão das gavetas...
JC - É difícil se desvincular da política, de
forma tão abrupta? O senhor tem sentido essa dificuldade?
MD - Muito difícil. Sou um homem de ação e, modéstia à
parte, obcecado pela responsabilidade. Sempre considerei o poder, o governo,
como uma tarefa que o povo confia a um cidadão. Cumprir essa tarefa da melhor
maneira possível sempre foi minha obsessão. Quando um problema de saúde me
afasta da linha de frente é claro que isso me angustia. Mas, a amizade, o
companheirismo e a lealdade de Jackson Barreto, somado ao profissionalismo da
equipe de governo e à solidariedade dos companheiros dos partidos aliados, em especial
da nossa bancada, ajudam a reduzir a angústia porque sou sempre consultado
sobre as decisões estratégicas do governo e da política.
JC - Qual foi o prognóstico que o senhor
recebeu dos médicos? Hoje boatos de toda sorte correm pelo estado (dos mais
pessimistas aos mais otimistas). Qual é a real situação do seu problema de
Saúde?
MD - O prognóstico é que tenho uma doença grave, mas
perfeitamente tratável e curável. Os exemplos de amigos como Lula, a presidente
Dilma, Zé Eduardo e de personalidades como o ator Gianechinni, mostram que há
vida depois do câncer e eu estou lutando por ela.
JC - A oposição tem mostrado agora uma estratégia
de pedir vistas sobre o projeto que trata da liberação do empréstimo do
Proinveste. Como o senhor avalia esta ação?
MD - Uma atitude temerária que pode por em risco o
futuro de Sergipe. Não posso acreditar num projeto político que constrói a mais
estranha e perigosa teoria eleitoral que Sergipe já viu: para a oposição vencer
é preciso que Sergipe seja prejudicado, obras sejam canceladas, empregos sejam
perdidos e a economia sergipana seja a grande vítima dos reflexos da crise
econômica internacional no Brasil. Quer dizer, a oposição só dará certo se
Sergipe der errado - como um candidato pode aceitar carregar essa marca? O
Proinveste não foi inventado por mim: é um programa de 20 bilhões que Dilma
criou para ajudar os estados que passaram pela auditoria do Ministério da
Fazenda e provaram ter condições fiscais, financeiras e legais de contrair o
empréstimo. Sergipe vai virar o patinho feio da Federação, o único estado fora
desse programa de ajuda financeira. Os empresários da indústria e do comércio,
os micro e pequenos empreendedores, acham que Sergipe deve se dar ao luxo de
recusar uma injeção de R$ 530 milhões em investimento direto em obras e
equipamentos?Os 30 milhões investimentos em infra-estrutura produtiva programados é que estão viabilizando a chegada de fábricas como a francesa, produtora de embalagens de vidro, no ramo desde o século 17. A Votorantim vai duplicar sua planta e depois de mais de duas décadas um novo investidor quer construir uma nova fábrica de cimento em Sergipe, num investimento que eu mesmo, pessoalmente, fui negociar em Recife com o grupo Brennand. São milhares de empregos. O que eu faço agora: viabilizo a infra-estrutura com os recursos do Proinveste ou mando o pessoal procurar a Bahia, Alagoas, Pernambuco, quem sabe, voltar na próxima década? São questões como essa que devem ser refletidas pelos deputados.
JC – Na sua avaliação, quem mais sairia perdendo,
com a não concessão do empréstimo?
MD - Uma das maiores vítimas da rejeição do Proinveste
serão os prefeitos recém-eleitos. Não sobrará dinheiro para parcerias.
Preocupa-me também as dificuldades que serão criadas para os Poderes.
Compromissos assumidos na elaboração do orçamento, repasse de verbas
suplementares e outros instrumentos de cooperação do Executivo com o
Legislativo, o Judiciário, o MP e o TCE, dificilmente poderão ser mantidas pelo
governo, sem a renegociação das dívidas antigas previstas no projeto. Continuo
acreditando na responsabilidade dos parlamentares e repito o apelo que já fiz
antes: Presidente Angélica Guimarães, pelo bem de Sergipe, ponha os projetos
para votar.
JC - O senhor já está pronto para governar
possuindo minoria na Assembleia?
MD - Um governador tem que estar preparado para governar
em qualquer condição - das mais fáceis às mais difíceis. Agora, eu continuarei
dialogando com os deputados e buscando construir maioria, seja de forma
permanente, seja em torno de temas específicos. A radicalização absoluta, o
eleitoralismo desvairado, a ambição que despreza o interesse público é ruim
para todos, governo e oposição. A ferramenta da política é o diálogo, essa é a
lição que a história nos dá. Sem essa característica do diálogo e sem a
possibilidade da construção de consensos, a política perde a sua essência
civilizatória e deixa de ser Política, com "P" maiúsculo.
JC - Na sua avaliação, qual o motivo que levou
deputados a deixarem a base governista, quando é mais comum presenciar a
situação contrária?
MD - Nós estamos vivendo um momento específico, marcado
por uma radicalização que ecoa ainda a recente batalha eleitoral. É preciso ter
paciência e compreensão. Não está ainda definido o padrão do novo
relacionamento que teremos com o Parlamento. O que nós do governo precisamos
humildemente compreender e aprender é que a Assembleia terá que merecer mais
atenção, mais diálogo, mais negociação nos temas prioritários para o governo.
Precisamos aprender a incorporar sugestões dos deputados a examinar com
respeito os pleitos parlamentares. A instabilidade de hoje pode se transformar
numa preciosa lição para nós todos e construir um novo paradigma para as
relações do Executivo com o Legislativo. O que nós não podemos - nem governo,
nem oposição, nem deputados que se dizem independentes - é viver num clima de
Fla-Flu, brigando por tudo e ainda xingando o juiz... Sergipe não está em
guerra civil e o povo não é bobo: a tudo vê, tudo analisa e, na hora certa,
tudo julga.
JC - Proinveste, escolha para o Tribunal de
Contas... Tudo isso tem sido uma antecipação de 2014?
MD - Não dá para negar que há uma precipitada
antecipação do pleito de 14... É até natural que as forças políticas se
organizem, se fortaleçam e construam suas estratégias para a próxima disputa,
mas é um erro, repito, um erro gravíssimo, tentar por um projeto eleitoral na
frente dos interesses gerais do povo sergipano. O povo vê isso como ambição
desmedida e pode desconstruir a imagem de um candidato ou a legitimidade de um
projeto. Eu cheguei onde cheguei porque nunca me esqueci de um fato: na
Democracia, Sua Excelência é o Povo e o Povo não é bobo!
JC - O senhor pensa em candidatar-se ao senado
em 2014?
MD - É uma possibilidade, mas eu só examinarei
efetivamente essa hipótese em janeiro de 14. Preciso recuperar minha saúde,
governar Sergipe e concluir meu programa de governo, com as obras e
investimentos que planejei.
JC - Jackson Barreto é o candidato natural do grupo
para disputar o governo em 2014, ou o PT vai querer emplacar um nome?
MD - Eu acredito que Jackson é o candidato natural da
nossa base, mas ainda é cedo para definições. É preciso permitir que todos os
partidos aliados, não apenas o PT, possam analisar os cenários, definir um
perfil de candidato e manifestar suas pretensões.
JC - O deputado Mendonça Prado disse esta semana
que o governador poderia se manifestar sobre um certo empréstimo concedido pelo
Banese. O tema envolveria um grupo político. O senhor tem algo a falar sobre
isso?
MD - Uma das marcas do meu governo tem sido a gestão
profissional do Banese, com governança corporativa, sem intromissões políticas.
Ao governo, acionista majoritário, cabe submeter ao Conselho as linhas
estratégicas de atuação do banco. Os empréstimos e demais negócios do banco não
passam pelo governador, mas são responsabilidade da Diretoria e dos gerentes,
que por eles se responsabilizam.
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