Lucas
Aribé Alves, 26 anos. Esse será a grande novidade da Câmara Municipal de
Aracaju, em 2013. Eleito pelo PSB com 4.311 votos, o rapaz será o vereador mais
jovem da casa, além de contar com uma peculiaridade: é deficiente visual.
Jornalista, radialista, músico e professor, Lucas pode ser considerado a
revelação desta última eleição, já que quase duplicou os seus 2.352 votos
obtidos em 2008. Nesta conversa com o JORNAL DA CIDADE ele falou sobre como
será sua atuação, que obviamente, vai focar os temas da acessibilidade. Leia a
seguir.
JORNAL DA CIDADE – Qual foi a sua
avaliação sobre esta campanha}
LUCAS ARIBÉ - Esta
campanha teve um diferencial em relação à outra: foi a nossa bagagem política,
a experiência que adquirimos. Passei a participar mais do partido, integrando
os diálogos, negociações e eventos. Ocupei um cargo na Secretaria de Educação,
que me permitiu atuar como professor de informática e braile. Acho que tudo
isso me ajudou, me deu mais experiência e me preparou para chegar com mais força
e popularidade.
JC – Você achava que desta vez
iria conseguir se eleger, numa chapa considerada muito difícil?
LA – Havia
a expectativa, mas fui adquirindo autoconfiança durante o processo da campanha.
No começo estava preocupado, justamente pelo fato de seis candidatos com
mandatos estarem na nossa chapa. No início eu estava sendo apontado como possível
surpresa, e buscamos fazer uma campanha divulgando nosso trabalho e propostas.
JC – A participação do deputado
federal e ex-jogador Romário foi importante na sua campanha?
LA - Sem dúvida,
na linguagem do futebol eu diria que ele foi um reforço de peso, eu diria que
ele foi a peça fundamental na campanha, por se tratar de um parlamentar disciplinado
e exemplar, que luta pela acessibilidade. Ele é muito respeitado e querido no
ambiente politico e pelo povo. Sem dúvida a participação de Romário era o que
faltava para a nossa vitória. Inúmeras pessoas falavam comigo, na rua: Ele é o
cara, é o candidato de Romário!
JC - A questão da acessibilidade
será sua prioridade?
LA – Nossa prioridade será lutar pela
acessibilidade e fazer esse trabalho inovador para Aracaju. É claro que a gente
vai estar atento às outras questões, como mobilidade urbana, Plano Diretor e as
discussões do dia-a-dia. A gente vai fiscalizar o prefeito, cumprindo o nosso
papel e buscando sempre o diálogo, para que a gente cumpra nosso papel com
perfeição.
JC – Você já possui algum projeto
ou ideia especifica para a questão da acessibilidade?
LA –
Durante a campanha distribuímos um panfleto
com dez propostas principais sobre este tema. O que tenho em mente hoje
como prioridade será criar uma legislação municipal voltada para a acessibilidade,
unindo o que já existe. Esta lei ou estatuto vai nortear todas as outras
propostas que a gente tem, como garantir a possibilidade de pessoas com deficiência
utilizarem Lan Houses, e lhes garantir autonomia em restaurantes e bares, por
exemplo. Livros digitais para os alunos da rede pública municipal e uma central
de intérpretes da libras são algumas das outras propostas, além da questão das
calçadas, que a gente vai continuar lutando pela padroniuzação.
JC – Hoje Aracaju é uma cidade
com acessibilidade?
LA – Infelizmente
ainda não é. Sabemos muito bem que a acessibilidade não é construída de um dia
para o outro, é uma caminhada muito longa. Nos últimos dez anos o Brasil começou
a investir na acessibilidade, principalmente no campo jurídico. Já existem
muitas leis que regem a acessibilidade, mas o que está faltando é o
cumprimento, a prática, este olhar no sentido de por em prática o que diz a
lei. E o papel da gente vai ser fiscalizar isso.
JC – O presidente da Câmara,
Emmanuel Nascimento, mudanças na estrutura da Câmara, para lhe receber.
LA – Li
sobre isso na imprensa, e visitei Emmanuel, para saber o que está sendo
pensado. Acho essa atitude muito louvável e tem um significado muito importante,
que é a Câmara de vereadores, na pessoa do presidente, mostrando que está
aberta para investir também na acessibilidade, o que nos leva a pensar que com
certeza vai aprovar as nossas iniciativas ideias.
JC – Você vaio continuar
desenvolvendo suas atividades de músico, professor, radialista, etc?
LA - Ainda
estou me reorganizando, porque acredito que a partir de janeiro, ou antes, vou
ter uma nova vida. Aliás, já estou tendo uma nova vida. Já estou me sentindo
como vereador, e olhe que a ficha não caiu imediatamente, por mais que soubesse
que já tinha ganhado, não tinha absolvido a informação. A música não vai parar,
e as outras atividades a gente vai ter que eleger prioridades.
JC – Você teve uma educação que
lhe propiciaram uma boa formação intelectual, mesmo com a deficiência física.
Faltam mais oportunidades a este setor da sociedade?
LA – O ensino público precisa ser melhorado
em todos os sentidos, não só na parte da Educação inclusiva. A Educação precisa
ser revista. Quanto a mim, no ensino particular foi uma luta para estudar, ir
para a faculdade. Houve rejeição de escola, que não aceitava deficientes em
1989. Mas quem acreditou, as escolas que apostaram nesta nova colocação, todas
perceberam que não é um bicho de sete cabeças. As pessoas com deficiência
estudam da mesma forma, tem notas altas ou baixas. Eu sempre gostei de estudar,
ler e escrever.
JC – Politicamente como vai ser
sua atuação? Estava preparado para ser um vereador de oposição?
LA – Mesmo
na oposição, a minha atuação será de trabalhar para o povo. Quero contribuir
para o quero contribuir para o crescimento de Aracaju, quero ajudar a apoiar
iniciativas criativas, pautadas na ética, no respeito e no diálogo, esse é o
meu perfil. Não sou de brigar, me exaltar, sou mais calado. Tenho
posicionamentos, meu partido tem um lado, mas vamos sempre buscar o dialogo com
o prefeito e vereadores, para que agente possa construir uma nova politica. O
povo precisa que vereadores e prefeito trabalhem em comunhão.
JC – Porque você acha que o seu
correligionário Valadares Filho não obteve sucesso nas urnas?
LA - Na política
é assim mesmo, ou se ganha ou se perde. Valadares foi muito bem votado, mas
enfrentou um adversário que já foi prefeito e governador. Mas o povo é quem
define, e só tenho que parabenizar o prefeito e dizer que espero dele uma atuação
decente, que ele cumpra realmente o que prometeu, assim com também vou tentar
fazer.
JC – Preparado para as novas
responsabilidades?
LA - Sem dúvida
é uma grande responsabilidade. Esse segmento que represento é um grupo forte,
importante. As pessoas com deficiência precisavam ter um representante ocupando
o parlamento. Temos outros parlamentares no Brasil, que está começando a respirar
acessibilidade. Sei muito bem que não vou ser o vereador dos deficientes, vou
trabalhar para outros segmentos, inclusive pelos radialistas e por outros
companheiros de profissão. Vamos buscar projetos para os radialistas, buscando melhorar
suas condições de trabalho. Agora vou trabalhar para todos.
JC – Você acha que foi votado
pelos deficientes?
LA - Passamos
por todas as entidades, mostramos as nossas propostas ,discutimos com alguns
deficientes também, tivemos um trabalho coletivo e uma proposta interessante
que quero por em prática. Queremos mostrar a união do nosso mandato com as
pessoas com deficiência e para isso vamos criar o Fórum permanente de
acessibilidade. No mais, quero apenas agradecer a confiança de todos esses
eleitores e quero deixar uma frase de nossa autoria, que resume tudo que a
gente pretende fazer durante os quatro anos: “Tratar diferente os diferentes é
oportunizar com igualdade”.
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